Resistir

Quero esquecer com aquela flor amarela

Plantada em meu peito.

Que avisa ao mundo: judeu

Quero apagar das memórias tanta dor

E a humilhação por apenas existir por ali,

Por ser alvo e não saber ser seta.

Quero esquecer o cárcere.

A solidão dos que perderam a dignidade.

Quero esquecer as cicatrizes

que fincam minha história

na pele ...

e borram o pergaminho da alma.

Quero esquecer o ódio.

Se o amor não tem explicação, pois é atávico.

Como entender o ódio, que nos é imposto?

O ódio do ódio que nos é imposto.

Quero esquecer o desdém,

a ironia e o prazer de fazer o outro sofrer...

São patologias e não devem ser colecionadas.

Quero esquecer o campo de concentração

Disperso nesse quarto e diluído em imensidão.

E, incrustado no banho de gás.

Mas como esquecer?

Se somos resultado de tudo.

Se estamos a meio caminho de tudo

Das reticências, dos finais sem condolências

E dos funerais embriagados...

A estrela amarela

Amarelada de velha

De tristeza pálida e singela

De transcrição ingrata e étnica

Que fazia de mim diferente no mundo

Mas o mundo era

um mar de igualdades cruéis

Como esquecer...

Não perdendo o dom de se indignar.

Não calando.

Não aceitando.

Não tolerando

o que for menos que humano e digno

Não abaixando os olhos diante das sombras

E nem erguendo-se

para se disfarçar de moita.

Não deixando o momento passar

Para informar que

sobrevivi e continuarei lutando

Até morrer. Essa é a sina.

Assim, a luta será eterna.

A ideia não morrerá.

Morrem os corpos

Ensanguentam-se os caminhos

Mas cada passo dado em direção à eternidade

Ou à memória

Traz no solado a transcrição solene

da resistência.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 24/08/2012
Código do texto: T3846198
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.