Olhos vermelhos


Há uma parte de mim que chora,
que se retorce de mágoa
pelos risos que foram triturados.
Isso, porque, cerrando os dentes de frustração,
acaba-se mastigando as esperanças, sem querer.

Essa parte de mim que é triste
outrora ocupou mais espaços,
porém cedeu lugar a outros nacos
que cresceram fora do desencanto.

Mas em mim, ainda, há uma parte que chora
e por certo sempre haverá,
porque lágrimas são lubrificantes de reação
quando não se lhes permite
serem meros resíduos de paralisias covardes.

Sim, é verdade que há outras partes de mim –
a que inevitavelmente chora é só uma delas.
Mas é pouco saudável estacionar
em lamentos que se reprisam
e reprisam
e reprisam.

Preciso vasculhar os estoques de contentamento
e ali procurar, em meio a riscos ainda não tentados,
novas razões para chorar,
nem que seja só para alternar lamúrias.

Olhos vermelhos fazem parte da vida;
cegar-se por isso, não!