Sinal dos anjos

Os dias têm passado tão pesados,

como folhas de chumbo em um calendário de almas represadas,

a solidão vai fazendo moradia em corações tristes,

os sorrisos vão sendo deixados para trás,

as melodias que nos embalavam estão em vinis arranhados,

o salão onde dançamos pela primeira vez está em ruínas,

o cinema onde assistimos nosso primeiro filme foi fechado,

e eu aqui sentado nessa velha cadeira olho pela janela empoeirada,

esperando seu retorno, como se houvesse alguma esperança,

fazendo uma prece para que tudo volte à ser como antes,

buscando forças no fundo do poço que me contém,

tentando me convencer de que ainda temos alguma chance,

sonhando acordado com um recomeço na brevidade do tempo,

mas tudo que há no horizonte são nuvens cinzas e tempestades,

as poesias parecem tão tardias quando o badalar do pós-meio dia,

nem consigo mais lembrar de sua voz há muito silenciosa,

nem consigo mais sentir o calor que seu corpo emanava no inverno,

nem consigo mais adormecer na felicidade de seus braços,

agora só há uma casa vazia e sem porta-retratos,

talvez você nem tenha mais paciência para um passado recente,

talvez você nem lembre mais de minhas palavras,

talvez nem recorde quando eu lhe disse "eu te amo" pela primeira vez,

foi num dia como o de hoje, 19 de um dezembro passado,

poucos dias antes de um natal de versos apaixonados,

quando significávamos tanto um para o outro,

quando nossos medos eram tão pequenos frente aos sentimentos,

e tudo que agora temos são só memórias apagadas e distância,

e tudo que faço é esperar algum sinal, algum sinal dos anjos...