conto-lhe um conto...

e continua ela com a sua mania de colecionar

coleciona amores, dores, saudades… fracassos.

coleciona ela medos também.

mas essa ela não gosta de sair ao mundo...

a espalhá-la por aí…

não… ela não importa-se com os julgos alheios…

mas fazia ela essa também…

há muito ela largou essa coleção.

percebeu ela que não lhe acrescentava coisa alguma – parou.

mas guarda-a ela consigo…

num bauzinho com chaves que apenas ela as têm.

não sei para quê guarda-as ela – mas guarda.

perdoa ela quase tudo, sempre…

mas diz ela que é para não esquecer.

ah… ela é muito esquecida…

nunca sabe ela onde deixa os óculos…

isso a irrita muito.

e eu sempre ajudo-a a procurá-los.

há quem diga que ela é muito livre…

inconsequente até.

mas os muito poucos que a conhecem…

comentam que ela apenas queria um encontro…

com a felicidade.

mas “isso” é sempre muito complicado às elas duas:

ela e a felicidade – não entendem-se nunca.

e disse eu um dia à ela

que os poetas não nascem a este “encontro”.

ela não gostou muito de sabê-lo ou já o sabia - não sei.

mas mudou ela de assunto…

e disse-me ela gostar de fantasias…

e gostar muito de uma, particularmente.

e veste-se ela de quase fênix…

sim! veste-se muitas, muitas vezes!

e penso eu até que ela habituou-se à essa.

muitos olham para ela de soslaio – isso sei eu...

é quando sobrevoa ela o seu “nada” vestida de fênix…

e brinca ela no seu “nada” e transforma-o em lindamente “tudo”…

assim… de repente!

apenas duas fantasias dela conheci eu…

essa... da fênix…

é mesmo linda vê-la renascer!

e sempre choro eu ao contemplar.

a outra… vive ela a bordar…

cái sempre uma pedrinha aqui e outra ali.

a da borboleta azul… é feita de tecido dos sonhos!

mas essa usa-a ela apenas em dias de sol.

sem as fantasias todas… “despida” ela?!

ninguém a conhece… nem mesma eu.

e que pena… parece-me tão frágil…

eu… a colocaria em meu colo...

e contaria-lhe todos os contos de fada da infância pouca sua...

e a faria acreditar em todos eles.

e de certo... conseguiria ela marcar "aquele" encontro.

e não vestiria ela mais a fênix...

e morreria ela em paz.

Karla Mello

16 de Agosto de 2012

Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 16/08/2012
Reeditado em 17/08/2012
Código do texto: T3833512
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