Memória



 

 

 

 

Antes de haver o violoncelo ou a voz,
ou antes que qualquer coisa faça sentido,
há a poesia primordial do não inventado,
repousando no fundo de um universo arquivado.
Então vem o chão, que inventa homens e guerras,
e eu na ponta dos pés tentando ver pelas frestas,
o que há de pele nestes engolidos pela terra.
Uma sempre pausa no quadrilátero infinito,
pois a solidão é branca e tem som de quase grito.
Um veneno que acompanha o espaço entre os limites,
que tanto oxida, mata e faz aos poucos reviver,
tornando a imagem das estruturas retorcidas,
a casa eterna onde se habita, para além de se esquecer.
o resto, o que sobra, o que se pode apenas ver,
contorna sua impossibilidade em leds azulados,
com o brilho doído de um reflexo alterado.
Então, será a eternidade o próprio inferno,
congelado em escadarias, tecidos rotos e fractais,
até que minta à esperança que ainda persiste,
que tudo terá um fim, até o próximo passo rumo ao cais.
Mas a visão abarca apenas outra passagem para o escuro,
e a escuridão sim, tem o som e o peso do real.
Onde habitam crianças selvagens, falantes, anormais,
vestidas de selva, de elementos sólidos, de animais.
E por aí se vai, sempre um círculo, chamado de inovação,
tão irregular quanto uma superfície vista de perto,
mentindo no horizonte, a ocorrência da linha reta,
e a todos ou outros, a funcionalidade de um coração.

Escala descendente, para dentro do mesmo som que se desfaz.
É onde todos habitamos, entre rochedos e gigantes,
onde se sai para a luz, e onde não morre-se nunca mais.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 09/08/2012
Reeditado em 09/08/2012
Código do texto: T3822425
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