Morte anunciada
Morrer secretamente.
Silenciosamente.
De forma frígida e sem dor
O corpo guarda a obturação
do destino
As amálgamas de prata ou de medo
Encobrindo o espasmo da vida.
O fôlego.
Estou aprendendo a morrer
Como se tivesse vivido
Passo as folhas do álbum
da memória
E as imagens parecem rotas
Ou inverídicas.
Quem é aquela que vejo?
De quem é o semblante triste?
Os olhos que não sorriem
E plasmados contemplam o horizonte
Como se fosse o abismo...
Morrer assim secretamente
Por entre florestas virgens
Por entre metáforas indecifráveis
Por entre os últimos fonemas
De dor ou melancolia
Morrer no passadiço da escada
Entre um degrau e outro...
Morrer no alto da torre
A esperar a simbólica redenção
Morrer, silenciar
E cair horizontalmente no berço
Das emoções esquecidas ou
sufocadas por culpa ou vergonha.
Depois de minha morte.
Afinal, a missa...
O silêncio ritual das preces
Sob olhares dos sobreviventes
A nau emborcada da igreja,
o átrio e a claraboia
conspiram avaliando meu pleito.
E, afinal a despedida dita
em coro: amém .