Diante do fato (o câncer)

Diante do fato, 

Do mal anunciado,

Do encontro inesperado

Com o monstro medonho,

O descompasso da surpresa,

O hiato da incerteza

Separando vida e sonhos.

E frente a desgraça,

O medo que abraça,

A certeza da demora

De um desfecho pra trama

Que já na estréia do drama

Arranca a paz e joga fora.

Diante do fato,

De toda a impotência,

Obrigando à paciência 

Que nos faz dela reféns,

Aos céus suplicando,

A fé dúbia disfarçando,

Prostrados nos mantém.

Mas a beira da revolta,

Da raiva que já na porta

Envenena o coração

Pondo culpa num castigo,

Nos confundindo o inimigo

Atrapalhando a razão.

Diante do fato,

Da paz dilacerada,

Com a guerra declarada,

Ao conhecer o algoz

Vê-se uma luta diferente,

Travada dentro da gente

Com o monstro dentro de nós,

Que ao punir nos punimos

Pois ao ferir nós ferimos

A própria carne em sua raiz.

E na batalha angustiante,

Nada mais será como antes.

Seremos nós a cicatriz.

GELComposicoes
Enviado por GELComposicoes em 20/07/2012
Reeditado em 19/09/2012
Código do texto: T3787508
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