Pobre Maria
Pobre, pobre Maria...
Na noite avançada, sem sono e sem cria...
O ladro de um cão... um gato que mia...
Um choro distante, um grito... agonia...
Alguém que sem rumo também se perdia
Barulho de pedra em lata vazia
Pobre, pobre Maria...
Pensando nas coisas que o tempo fazia...
Sem canto, sem riso, sem flor e alegria...
Coração gelado guardado em alma fria...
Um grito silente que ninguém ouvia...
Pobre, pobre Maria...
A noite escoando no raiar do dia...
A lua fugindo no sol que surgia...
Um carro buzina... um pássaro pia...
Lá fora a cidade assim renascia...
Pobre, pobre Maria...
Sózinha e cansada assim padecia...
Então um alento enfim se anuncia
Naquele fim de noite, início de dia
Pobre, pobre Maria...
Cabeça pendente no bojo da pia...
A vida sem graça enfim se esvaía...
Enfim, entreaberta, a boca sorria...