Saudades, PAI

Devíamos ser mais cordiais,

e quiçá dado as mãos, às mãos,

qualquer afeto que sobrepujasse a concepção

de afeto entre pai e filho.

Mas foste embora, pai.

Sem ao menos avisar,

com teu egoísmo atado aos bolsos,

com teu jeito rude e refinado,

foste,

sem nada de prévio,

apenas sobressalente às dores,

cheio de dores,

com as mãos atadas aos céus.

Sim, pai... meu velho, Deus há de ter recebido

teu sopro remanescente,

tua alma outra vez lavada,

teu sussurro de clamor em voz de perdão.

Deus o tenha.

Deus te tenha.

Mas ao te ver em tuas coisas,

objetos estáticos,

futilidades em especial,

ferramentas,

espelhos,

espectros,

sentei-me sobre tua cama,

desarrumei,

chorei e chorei novamente.

Perdão pelo lençol amassado, pai.

Perdão por não saber perdoar como convém.

Perdão,

pois amassado está o meu coração.

Ao Sr. Julião, meu velho, que acabei de perder por entre os dedos !

(1932-2012)

DESCANSA EM PAZ, DESEJADO PAI.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 06/07/2012
Reeditado em 11/05/2016
Código do texto: T3763862
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