A queda
Escapei por suas frestas como um raio de luz,
penetrei a terra impermeável de sua alma,
pintei um sorriso onde só havia seriedade,
fui seu ouvinte no silêncio de minha voz,
amparei suas quedas ao longo da montanha,
segurei sua mão em encostas íngremes,
consolei sua tristeza imanente das perdas passadas,
fiz um sol na noite para clarear sua escuridão,
desenhei uma janela em seu muro de concreto,
fiz voar sua imaginação para além da vida prática,
toquei seu coração como cócegas de uma pena...
.
Encontrei sua solidão e tornei um baile na multidão,
toquei a música que ensejou seus passos na pista,
observei sua silhueta entre as brumas da noite,
uma fada despontando de um casulo esmaecido,
não lhe pedi mais nada além de um segundo de amor,
hoje à noite fiz tocar as harpas dos anjos para encantá-la,
carregando-a em meus braços quando adormecestes,
velei seu sono ao longo de madrugadas de tempestades,
cobri seu corpo com o calor da minha paixão cuidadosa,
para então ver você despertar para o senso comum,
expulsando-me no espirro de seu frio ressentimento...
.
Logo eu que troquei minhas asas por sua companhia,
logo eu que arranquei cada pena de minhas costas,
logo eu que desisti da imortalidade por sua presença,
agora vago errante pelas linhas tortas de meus desabafos,
ébrio em minha dor solitária de cada noite sem amanhecer...