Segredos de Meninas
Esta noite
Fui às chaves
E abri
Um quarto escuro de mim
Visito-o quase nunca
Mas havia uma dor minha
Presa lá dentro e queria sair
Precisei ir buscá-la
Encontrei-o - o quarto - mais mexido
Alguém mexeu
Alguém entrou
Alguém chorou
E largou por lá
Um pouco mais de dor
E de criancinhas, o olor.
E mais quiemeras quebradas
E emudecidas cantigas de roda
E estava todo alagado
Das lágrimas da noite.
As teias da maldade
Quase impediam-me de passar
E encontrei a outra criança
Também perdida
Violada
Na psique
Na alma pura.
Encontrei outra criança, meu Deus!
Que chora prantos como eu
E queria apenas terminar
De cantar suas modinhas
E dar aulas às bonequinhas
E eram todas sentadinhas
Atentas aos sonhos seus.
Ficamos assim
Em meio aos horrores
De mãozinhas dadas e trêmulas.
Eu e ela perdidas...
E deveria ser de amores
De proteção
De colo de sempre volta
Mas não...
É colo de sempre ida
P'ra bem longe
E carece perdão nosso
Mas carece despedida.
Tirei-a de lá - do quarto escuro de nós
O meu amorzinho.
Tranquei esta porta!
E sabem...
Pretendo jogar fora estas chaves.
- Deita em meu ombro, minha menina...
Tudo está longe... embora tão perto.
No abandono
No cheiro de mágoa
Desse escuro quarto.
- Deita aqui ao meu lado e chamemos os anjos
E as fadas!
E cantarão a nós
Junto às nossas bonequinhas
Com trombetinhas entoadas
Cantigas que ensinam o perdão.
E vai dar tudo certo
Quando tudo terminar, então.
Segura e não solta, meu amorzinho...
Não solta a minha mão.
Karla Mello
18 de Junho de 2012