O canto da dor
Pranteadas lembranças
De pessoas tão amadas
Desde os tempos de criança
Que soluço de saudades
Açoita-me um violento vento...
Ainda não viver à eternidade
Para aliviar este tormento
De não vê-las aqui ao meu lado
Apenas sinto profunda tristeza
A parecer-me deixar inconsolável
Aí recorro à plástica beleza
De um poema admirável...
Será que encontro a chave secreta
A abrir o cofre deste silêncio?!
Deixo a luz entrar pela porta entreaberta
Ou apenas dialogo reminiscências?!
Eis que recebo em festa de lamentos
Os espíritos que estão transbordantes
A acariciar este sublime momento
A purificar-me em lágrimas declinantes.
Hildebrando Menezes
Nota: Inspirado em poema que me foi enviado por Márcia Laja.
de Eugênio de Andrade “Onde me levas, rio que cantei”
Onde me levas, rio que cantei,
... esperança destes olhos que molhei
de pura solidão e desencanto?
Onde me leva?, que me custa tanto.
Não quero que conduzas ao silêncio
duma noite maior e mais completa.
com anjos tristes a medir os gestos
da hora mais contrária e mais secreta.
Deixa-me na terra de sabor amargo
como o coração dos frutos bravos.
pátria minha de fundos desenganos,
mas com sonhos, com prantos, com espasmos.
Canção, vai para além de quanto escrevo
e rasga esta sombra que me cerca.
Há outra fase na vida transbordante:
que seja nessa face que me perca.