Hoje percebo com espanto
O tanto que me perdi de mim
Ouvi de outros lábios confissões
Que outrora perteceram - me.
E vislumbrei nos olhos alheios
O brilho intenso da paixão
O quanto amarga estou
Tudo em mim desbotou.
Não há mais esse colorido
Tudo está em tom cinza
Nada é quente
Vivo no limiar entre
Ausência e descrença.
Que fiz de mim?
Onde enfim me perdi?
No lugar da jovem
Apaixonada e arrebatada
Agora sobrevive uma mulher
Amargurada e entediada.
Minha casa que tivera
Paredes de cores tão vivas
Hoje estão desbotadas.
E o meu coração
Que pulsava tanto amor
Verte dor e ressentimento.
A música
Que embalava meus sonhos
Ternos e preciosos
Não toca mais.
Eu não amo
Somente sinto
O conforto da acomodação!
Não, eu não me reconheço
Diante o espelho
E sei que há tempos
Venho matando o meu melhor.
Sim, eu padeço
Hoje vi nas cenas
Da vida que não é minha
O tanto que minha passagem
Por aqui
Se tornou nada.
Então logo eu
Que sempre quis ser
Mais que figurante
Sou só mais um
Na imensa multidão!