POESIAS - TRISTEZA (De 1 a 7)

CICATRIZ

No princípio apareciam só as boas brincadeiras.

Na minha liberta infância pueril, linda e juvenil...

Surgiam árvores, pássaros, flores e borboletas.

O esconde-esconde, pega-pega, banhos de rio.

Então veio um sol horroroso, sem brilho...

Um vento negro, frio, triste e misterioso.

Uma tempestade sêca que não tinha cor,

Veio como a me anunciar um ato maldoso,

Que me daria calafrios e uma imensa dor.

Animal agarrado em mim de forma brutal,

Não pude reagir aos seus braços fortes.

Senti um pêso muito maior que a morte,

Uma agonia extrema de um destino fatal.

A suas volúpias se misturavam ao meu intenso tremor,

E as lágrimas ao vermelho do sangue da carne ferida...

Caíram do céu, pedras e brasas, armas do meu agressor,

A dura maldade retirou por um momento a minha vida.

Um intenso ódio me consumindo sempre a queimar.

Meu mêdo, por um dia alguém eu nunca querer amar.

Vá criatura, pro interior do inferno ardente,

Com esse cruel e pecaminoso destino demente.

Nunca mais quero vê-lo em minha frente.

Caminho com essa imensa dó de mim,

Com essa mágoa, ferida aberta sempre a me arder...

Caminho por essa terra muito só, enfim;

Terra de injustos destinos, onde tento sobreviver.

Quero que um dia qualquer eu possa talvez voltar a ser feliz.

Sempre estou tentando entender as pessoas que me olham,

Mas que não enxergam essa inesquecível e profunda cicatriz.

AS BORBOLETAS

Acendi um baseadinho bem enrolado.

Sentei-me naquelas úmidas pedras,

Lembrei-me do meu breve passado,

Das minhas vitórias e das quedas.

A minha tosca parcela de maldade

De um jovem colorido e sonhador,

Chegou ao limite de um ser voador.

Matei a mim, antes de matar a beldade.

Sou um colecionador, sou o erro da paz!

Sou um predador, o que leva e nunca traz!

Não tenho ninguém neste momento...

Compartilho apenas o sofrimento,

Após matar as lindas borboletas,

Nesta manhã de ato muito covarde.

Agora eu as contemplo obsoletas,

Sem poder trazer-lhes a vida,

Uma criatura tão querida,

Pois já é muito tarde...

Em casa vou alfinetá-las no isopor!

Jlle, 30/11/1990.

MATRICÍDIO

Fora a dor do parto que por você, como grande guerreira ela sentiu,

Sem ao menos esperar esse triste e cruel destino que a aguardava,

Teve as lágrimas soltas que enrolaram a pele do rosto já enrugada,

Retratando a vitrine da carne viva da vida em diante que te serviu.

A sua boca como um filhote procurando o alimento,

Roubava-lhe o materno leite misturado com carinho.

Ela cantava músicas de ninar, um lindo sentimento,

Para seu choro acalentar e pegar no sono mansinho.

Os anos passam... Inocência!

Os anos passam... Obediência!

Os anos passam... Desobediência!

O corpo manca cansado...

Tamanco muito gasto,

Uma marca do passado...

Então vem o golpe..., inconseqüente,

Da sua mente alucinada, delinqüente.

No ataque a este ser tão casto, por olhos sofridos dos anos perdidos,

Trazem um pedido de misericórdia nos atos de selvageria sem sentido.

Pobre coitada! Tão querida!

Uma mãe fada, muito ferida.

Seus dedos sujos de sangue.

Arrependido, ele a olha triste,

Está morta! Vida já não existe.

Morta..., para nunca mais!

Ele foge, mas tenta voltar,

Pensa em a querer salvar,

Mas, a vida está perdida,

Da mãe fada, tão querida,

Agora já é tarde demais!

NINHO DE COBRAS (Poema cúbico de três)

Na cabeça alvejou,

Quem nele atirou?

Um fulano expirou...

No chão frio,

Apagou seu pavio,

Perdeu seu brio.

Olho por olho,

Livre do tolho

Sangue de molho.

Dente por dente,

Ninho de serpente,

Morreu um indigente.

Homem sem vida,

Uma alma querida?

Talvez..., mãe sofrida!

Olhares de reprovação,

Tristeza? Qual coração (...)?

Homem sem documentação.

Não aparece ninguém,

Vitima ou refém?

Culpa de quem?

Descanse sem paz,

Um jovem rapaz.

Atitude? Ninguém faz...

Ninho de cobras,

Das plenas manobras,

Morte das sobras...

MALDADE DO VÍCIO

Frutos da insanidade que só trazem a maldade,

E o inocente ainda paga o preço da atrocidade.

Em suas peles tatuadas as vidas foram ceifadas,

Nas suas chacinas simplesmente encomendadas.

É indiferente a conseqüência para essa gente.

Pode ser um traficante ou um ladrão ignorante,

Pode ser um tarado ou um psicopata fulminante,

Um grande lunático que um mendigo incendiava,

Um pedófilo que na inocente criança se deliciava.

Matar, estuprar, traficar? O roubo fácil se negociará,

E o atravessador com ordem que imposta pelo chefão,

Mas, ciente da sua contravenção, vai e dá o empurrão,

Para acionar o moinho qual mente suja nunca desaguará.

Um ciclo interminável? Eu acho que ainda tem solução,

Deixá-lo preso perpetuamente, sem nenhuma absolvição.

Porque defesa deste safado? Se já foi o crime consumado?

Há erro nas linhas das leis, e de um governo ultrapassado.

Aqui quem manda infelizmente é o terror dos bandidões,

Porque os governantes não têm os culhões de cores roxas,

Tudo acontece de ilícito nessa negociação feita nas coxas.

A indignidade da corrupção está nas mãos destes cagões.

Cerquem as fronteiras e deixem todas muito bem vigiadas,

Acionem e recrutem mais exércitos com bons armamentos,

Que com muitas varreduras constantes e bem preparadas,

Eles esvaziem em grande escala as casas, os apartamentos.

Qualquer bandido que por ali for procurado, logo aparece.

Se tentativas e iniciativas não forem utilizadas em breve,

Pode contar minha gente, que só nos resta ter fé na prece.

Fica a esperança que a justiça para esse povo à paz leve.

A maioria dos crimes tem relação com as drogas do mal,

Se não houver uma mudança urgente tudo será dominado

Entre todos os desejos do povo sofrido este seria o ideal,

Ver todos seus filhos queridos longe deste mundo viciado.

O SUICÍDIO

Observo nostálgico as formiguinhas,

Que caminham por entre os furinhos do chão.

A chave do meu quarto,

Atirada próxima do portão.

Agarrado a grade da minha janela,

Vejo também as folhas e flores do jardim.

O céu e o sol mudos...

A cortina e o tapete banhados de vermelho.

Os trêmulos gemidos, o ar, as cores da vida vão desaparecendo...

Sinto os pingos escorrerem nos meus cotovelos.

Esvazio-me lentamente...

Jlle, 1992.

MENTIRAS

O sentimento que machuca o meu peito é grave, não pode ser desfeito,

Você não me feriu seriamente, não abusou de mim, também não bateu...

Mas, pra mim é tudo igual, e talvez pior ainda, pois não tinha mais jeito.

Esperanças que guardava em você, tudo isso lá no meu quarto morreu.

Tenho uma coisa para te dizer, e vou falar olhando para a sua falsidade,

O homem deve ser fiel e verdadeiro para nunca enganar a mulher amada.

Ande muito, sigas por onde tu imaginar, mas nunca vais ver a felicidade.

Já estou muito distante das tuas mentiras intermináveis, estou libertada!

Eu fui à calma que te buscou, fui à maravilhosa verdade encantada,

Dentro do meu corpo só havia a dedicação e você era a minha vida,

Procurei o que nunca tinha encontrado, um homem para ser realizada...

Mas, descobri enquanto durou nosso curto romance, que eu fui atingida,

O que vivia no seu coração era pouco de mim e de uma forma enganada.

Deixei de em ti existir, pois o meu amor para você era mentira, fui traída!

Setedados
Enviado por Setedados em 02/06/2012
Código do texto: T3701852
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