NA BEIRA DO ABISMO
(Lena Ferreira)
Nesses dias de solidão solícita
amordaço os gestos delicados
palavras se debatem na parede
onde fatos revelados se desbotam
A língua salivando o meu passado
sorri, em desespero, do presente
um gélido resquício que míngua
pelas tentativas sucessivas e vãs
Voam atritos contritos, conflitos
voam, letras de sangue e suor
ricocheteando, atingem o quadro
que retratava todo o romantismo
Volto às fotos que me revelam
paisagens, passagens, cinismo
vertendo lágrimas petrificadas
cultivo flores na beira do abismo