O PICO DA DOR
É o esquecimento
Lembranças passadas
E futuras
Que enterramos
Na carne e espírito
Com um profundo lamento
O pico da dor
É voltar à prosa negra
Que foi sempre minha companheira
Ninguém a lê
Ou quer compreender
Mas esta sempre foi a minha Pátria
Eterna
E não como a poesia
Meramente passageira
O pico da dor
É amar-te
E não ser amado
e me sentir tão
tanto
como nunca abandonado
Rumar para outras terras
Onde possa ser estimado
Recordado
O pico da dor
Já não há
Nem Reis
Nem Borboletas
Há sim a tristeza
Que me acompanha
E que infelizmente
por não haver nada no seu lugar
me completa
O pico da dor
É passar noites frias
Acordado
Na realidade portentosa
De nunca
Jamais
Te poder ter a meu lado
E acrescentar
Mais uma ala negra e gélida
Ao meu Palácio de Gelo
Minha casa de sempre
Meu legado
Meu inseparável pesadelo
Onde estão encerrados
Os mundos que criei
Mas que a nada
Nem a ninguém dizem
Mas encerro-me neles agora
E pela eternidade
Indefinível
De quem julgou ter o mundo na mão
Mas que descobriu hoje
Esse mundo ser perecível
E ir-me agora embora de vez
Rumo ao invisível esquecimento
Com imensa mágoa
Gigantesco Lamento
Sem sequer dizer um "Adeus"
Ou um "até já"
Sofri aqui
Mas também aqui tive momentos de prazer
Mas chegou a altura de partir
Embora
Saudades
Deixe por cá
O pico da dor