Não consigo me ver sem você
Vi o Lino subir o morro levando um violão debaixo do braço.
Vi no meu cansaço diário um pinto piano num portão logo abaixo.
Vi a saudade surgir na esquina fazendo dueto com a solidão, e logo atrás pro meu desespero avistei cavaquinho, flauta, zabumba, pandeiro, tudo isto nas mãos dos fantasmas que agora povoam a minha imaginação. E estarrecido, triste com os meus tantos motivos de estar assim sofrendo, vi todos eles se acampar ao lado da minha janela para mais uma noite de serenata onde o tom maior tem sido sempre as recordações.
Vi de novo um novo amanhecer, vi que o Lino vinha descendo, mas não ouvi mais o pinto piano, mas no peitoril da minha janela vi o rabisco da serenata do adeus, vi que algumas pessoas olhavam no modo curioso de ver, e me vi fechando a janela para que eles não vissem minha alma morrer.
E depois nada mais vi, pois não consigo mais me ver sem você.