TEU OLHAR NAO SUGERE POEMAS
Vim aqui em busca de palavras
Preciso de coisas que sejam ditas hoje
Preciso disto agora
Quando calo as coisas soam tão ruins
Meu mutismo desloca as engrenagens do meu ser
Só você não percebe
Já busquei em você coisas a serem ditas
Em vão
Teu olhar não sugere poemas
Não sugere nada
Onde estavas quando derramei minhas lagrimas?
Chorar é antes de tudo tão humano você percebe?
Deixar a alma respirar
Transpirar um sofrer
Todos precisam
Não sei o que vejo em você
Não sei se você vê algo em mim
Um ponto estranho este em que chegamos
Quando as palavras são escassas
E os gestos são enérgicos
São severos
Será a diferença entre nossas jornadas anteriores?
Teus caminhos tão tumultuados e brutos
Minhas andanças sombrias e solitárias
Será isto?
Não sei
Tantas coisas não se encaixam em nosso quadro
Onde eu vejo a rosa você vê apenas uma planta
Onde vês o valor eu sinto o desperdício
Tão estanha a vida não é?
Pessoas fazem escolhas
Escolhas definem caráter
E o medo ronda a todos
Eu enfrento meus dias com a inevitável coragem do irremediável
Não sei como enfrentas os teus...
Será pura praticidade?
É uma força apenas?
Brutalidade moral?
Não sei...
Eu traço linhas sobre você
Eu teço enredos e crio historias
Mas não basta
Algo me foge
Alguma coisa me escapa
Feito areia entre os dedos
Algo que não posso reter ou mudar
Tudo me vem como ondas
Mares furiosos de percepção
Eu escrevo sobre você
Nunca escrevi pra você.