Desalento
Minha vida é puro desalento
Preciso achar a alegria de viver que deixei
Nalgum lugar, nalgum momento
Quando minha alma era juvenil e entendia de flores
E eu tinha uma casa no campo e
Achava-me o mais feliz dos homens
Quando era Deus, meu amigo
Meu confidente e nada me cobrava
Agora, já não acho graça em nada
Significa que amadureci ou apodreci ?
Talvez eu esteja apenas extenuado
E busque com meu olhar cansado
No seu olhar, a luz que já vi antes
Quando era um estudante
Um ser apaixonado
Porém, está tudo tão escuro
E há entre e o mundo este muro
Que eu mesmo construí
Agora, só a encontro nos devaneios
Perto do que me é alheio
Bem longe de tudo que meus olhos vê
E o meu coração sente
Poderia eu reacender o fogo da minha vida?
Quem sabe..eu não devesse apenas chupar um sorvete!
Talvez, se eu puxasse um florete e duelasse?
Se eu perdesse, como sei que perderia
E o meu sangue no chão derramasse
Com sei que derramaria
Encararia eu a morte com altivez?
Se eu importasse a altivez argentina
Se eu pegasse escarlatina...
Alguém cuidaria de mim?
Se eu dançasse um tango?
Seu achasse, com quem dançar um tango...!!
Se eu ofertasse uma flor para alguém que me amasse?
Se houvesse uma flor, se houvesse quem me amasse..!!
Seria eu ainda capaz de amar?
Se meus pulsos cortasse ..
Teriam piedade de mim,
Ou seria mais uma nota triste
Em um pequeno pasquim?
Sinto que o sol já não me aquece,
Que as primaveras não me embevecem
Que o inverno, sim, mora em mim
Talvez eu deva procurar um novo amor
Melhor seria o velho amor rejuvenescido
Melhor ainda se fosse correspondido
Mas e este muro?
Tão incômodo que coloquei diante de mim?
Como livrar-se dele e de outros que estão atrás dele?
Se eu assobiasse uma canção de roda, soaria verdadeiro?
E seu comprasse um regalo e mimasse meu coração?
Se eu bebesse aguardente,
Seu eu viajasse, encontrasse outra gente
Reencontraria a inspiração?
Quem sabe, eu devesse olhar uma flor
E descobrisse nela algum novo sentido
Quem sabe, não visse no seu delicado colorido
O mesmo que vê um beija flor!
Daqui da minha varanda,
Aquece-me uma réstia de sol
Eu olho tudo entender
Vejo as pessoas nas ruas, triste ciranda!
Eu, que nunca entendi da vida
Que sempre me pareceu servida
Com frieza e desdém
Seria eu importante
Se fosse importante ser alguém?
Talvez eu devesse pegar um trem
Desse que vai para as montanhas
Desses que cruzam rios e matas
Ou simplesmente descansasse meus olhos nos remansos
Refletir-se-ia a paz em mim?
Se eu seguisse uma religião
Se eu acreditasse na religião
Encontraria a compreensão
Para o que me deixou assim?
Quem sabe eu deva apenas sentar
E esperar numa estacão
Um trem barulhento qualquer,
Quem sabe ele não traz um novo amor
Uma mulher de chapéu,
Romântica e elegante
Com a boca vermelho-carmim
Quem sabe, ela não estivesse
Também procurando por mim?
Quem sabe, ela estivesse também infeliz
E precisasse de um novo amor
Quem sabe não me sorrisse
Quem sabe, eu lhe flertasse com uma flor!
Quem sabe seu sorriso
Me despertasse o desejo de amar
Quem sabe se não devo tentar?
Meu Deus o sol se foi,
E eu devo estar muito doente
Para ainda sonhar!