Reflexões de um pássaro machucado

Sinto uma brisa calma...

As borboletas e os pássaros voam...

Transpassam o céu azul;

Cortam meu olhar perdido em voos sinuosos;

Sinto minha cabeça suspensa em qualquer ar.

Vêm e vão!

Voam e desvoam no meu peito transpassado;

Cortam meus pensamentos neste olhar resguardado...

Nesta manhã de esperanças vencidas.

Há cantos...

E em cada canto há um riso suprimido

Há um choro doído...

Contido em minha alma.

Há barulho em meu olhar.

(Este, hoje, é o meu! )

Hoje eu queria estar cego...

Gostaria de não ter ouvido o vento cortar meus ouvidos;

Forçando-me um contato intimista com tudo que vejo;

Com tudo que outrora fora um desejo pavimentado;

Solidificado em tudo que já senti.

Um desejo disfarçado de abraço.

Vontade de sumir.

Mas de repente percebi-me assim... Sem saídas...

Parece que estou sempre preso a alguma vida...

Existindo apenas pra que ela exista...

Existindo apenas pra que um dia Eu possa existir...

Agora há em mim um cansaço...

Há um reflexo em cada estilhaço dum espelho que se quebrou.

Refletem tudo que fui e sou -

Eles me deixam escolher meu rosto...

Mas hoje... Hoje eu sou um pássaro trancado.

Observo da minha janela todo o céu azulado...

Vejo as pegadas que o passado deixou...

Estão ali... Inutilizadas pela casualidade do tempo

E eu...? Eu continuo sentindo o vento.

Mas hoje... Hoje eu sou o que o tempo me deixou.

Sou esperança do pássaro que nunca voou;

Sou uma lembrança que deixou-se abandonar...

Que se deixou-se calar...

E esquecer o presente.

Sou um pássaro silente que ficou sem voar...

Vi a vida passar e preferi não fazer nada.