Que venha a Amnésia

Que venha a amnésia

Hoje eu não quero escrever

Não por não ter o que dizer

Apenas por não querer registrar

O que incomoda e não quer mais calar.

Toda as dúvidas, toda essa incerteza

Essa angústia, essa longa tristeza

Essa sensação de perda, mesmo sem nunca ter tido

As brumas embaçando o que pensava ter vivido.

O mar desfazendo sem rastros os castelos de areia

O barulho das ondas abafando o canto da sereia

A natureza tomando de volta para si meus caminhos

As pétalas sendo feridas e mortas pelos espinhos.

As palavras que não fazem mais sentido nos poemas

As confusas e ininteligíveis repetitivas e inócuas cenas

As nossas músicas que agora parecem falar de outros casais

Aquela torturante certeza que nada será como antes, jamais.

A ressaca de fim de festa, a escolha errada na encruzilhada

O andarilho sozinho, sem rumo, perdido no meio da estrada

Aquele caminho escuro que liga lugar nenhum a absolutamente nada

Quixotescamente lutando contra moinhos de vento, sem espada.

Talvez, em algum momento, tudo isso faça algum sentido

Não quero ser pessimista ou cético, mas sinceramente duvido

Quem sabe , um dia, eu até venha a rir dessa história

Mas no momento, eu queria era mesmo, apagar da minha memória.

Leonardo Andrade