"MINHA ADOLESCÊNCIA"
Oh! Saudades que não tenho
Da minha adolescência sofrida
Ufa! Que os anos não trazem mais!
Que revolta, que sonhos, que dores,
Naqueles dias inteiros
De trabalho dobrado
Ou de ócio forçado
Na casa sem tevê e geladeira,
Na mesa, nem bananas.
Ou laranjas têm mais!
Como são duros os dias
No esplendor da existência
De quem sente a dor da carência!
- Respira a alma clemência
Como a inocência da flor;
O mar é – o tamanho do medo,
O céu é – um sonho encantado,
O mundo – um lugar desumano,
A vida – uma sina de dor!
Que madrugada, que sonho, que vida,
Que noites de melancolia
Naquela cama tão fria,
Naquele desejo de amor!
O céu bordado d’estrelas,
Inspira-me mil fantasias,
A terra de problemas cheia
Neste momento, até silencia;
Nas ondas do sonho, beijo uma sereia, -
E a lua falando de amor!
Oh! Dias da minha adolescência!
Oh! Meu céu de privações!
Que dura à vida não era
Nessa tristonha manhã!
Em vez dos sonhos da noite,
Eu via no mundo malícias,
De minha mãe não tinhas as carícias,
Vivia com minhas irmãs!
Livre – nem da vergonha,
Eu ia cabisbaixo sem jeito
A camisa rasgada no peito,
- Pés descalços, braços nus –.
Vagando pelas calçadas,
Olhando vitrines cheias,
Por entre pessoas ligeiras
O que então eu sentia
Palavra nenhuma traduz!
Naqueles tempos desditosos
Ia vender bugigangas,
Trepava a tirar mangas
Para a barriga enganar;
Rezava as Ave-Marias,
Achava o céu sempre triste,
Adormecia pedindo
E despertava a chorar!
(Parodiando Casimiro de Abreu)