"MINHA ADOLESCÊNCIA"

Oh! Saudades que não tenho

Da minha adolescência sofrida

Ufa! Que os anos não trazem mais!

Que revolta, que sonhos, que dores,

Naqueles dias inteiros

De trabalho dobrado

Ou de ócio forçado

Na casa sem tevê e geladeira,

Na mesa, nem bananas.

Ou laranjas têm mais!

Como são duros os dias

No esplendor da existência

De quem sente a dor da carência!

- Respira a alma clemência

Como a inocência da flor;

O mar é – o tamanho do medo,

O céu é – um sonho encantado,

O mundo – um lugar desumano,

A vida – uma sina de dor!

Que madrugada, que sonho, que vida,

Que noites de melancolia

Naquela cama tão fria,

Naquele desejo de amor!

O céu bordado d’estrelas,

Inspira-me mil fantasias,

A terra de problemas cheia

Neste momento, até silencia;

Nas ondas do sonho, beijo uma sereia, -

E a lua falando de amor!

Oh! Dias da minha adolescência!

Oh! Meu céu de privações!

Que dura à vida não era

Nessa tristonha manhã!

Em vez dos sonhos da noite,

Eu via no mundo malícias,

De minha mãe não tinhas as carícias,

Vivia com minhas irmãs!

Livre – nem da vergonha,

Eu ia cabisbaixo sem jeito

A camisa rasgada no peito,

- Pés descalços, braços nus –.

Vagando pelas calçadas,

Olhando vitrines cheias,

Por entre pessoas ligeiras

O que então eu sentia

Palavra nenhuma traduz!

Naqueles tempos desditosos

Ia vender bugigangas,

Trepava a tirar mangas

Para a barriga enganar;

Rezava as Ave-Marias,

Achava o céu sempre triste,

Adormecia pedindo

E despertava a chorar!

(Parodiando Casimiro de Abreu)

Manoel de Almeida
Enviado por Manoel de Almeida em 16/04/2012
Código do texto: T3615474
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