Mais uma Dose
Em algum lugar lá fora
As flores desabrocham
E há sorrisos flutuando no ar
Todavia, como posso escrever sobre as flores e a luz do sol
Quando meu coração está mergulhado na escuridão?
Estou presa dentro de mim mesma
Como um aprendiz de Byron,
O mestre dos ultra-romantistas errantes
E o que acontece no exterior
Não interfere o suficiente para apaziguar a tristeza
É preciso primeiro ajeitar a si mesmo
Para então pensar em ajeitar o mundo
Eu preciso primeiro de outra rodada de uísque
E alguns meses de sono
Preciso primeiro terminar de cair
Para então me por de pé
Preciso primeiro gastar as lágrimas entaladas
Aceitar a fraqueza para então aumentar a força
Não entendo nada
Se pudesse, preferiria queimar todos esses sentimentos inúteis
Embora, sem eles, talvez me tornasse um androide
E abandonasse para sempre as boemias ultra-romantistas
Na verdade, preciso de mais uma dose
Mais uma dose de ultra-romantismo
Que me faça admitir toda a tristeza que ocultei
Que me faça passar a noite acordada sentindo sua falta
Preferindo a morte ao frio da sua ausência
Ao invés de dormir fingindo que nada disso importa
Preciso de mais uma dose
Uma dose de verdade
Que me faça corajosa pelo que sou
E não pelo que finjo ser
Preciso de uma taça de lágrimas
Pois pedras não choram
Mas também permanecem para sempre no mesmo lugar
Emperradas em sua dura teimosia
Preciso virar um último copo de ilusão num só gole
Para depois enfrentar a realidade de frente, sem máscaras
Preciso abraçar a noite
Para sobreviver o suficiente para a chegada da luz do dia
Porque quando a vida começa a perder o sentido
Talvez seja hora de morrer
Para renascer mais forte
Como uma fênix saída das cinzas
Então me traga mais uma dose de morte
Para que eu volte a ter sede de vida