Décimas da Inquietude

Décimas da Inquietude

Há poeta que tem alma em conflito

Que absorve a dor que lhe é alheia

Quanto mais ele sofre, mais verseja

Lança a sua poesia como um grito

Mas, porém se ele cala o seu suplício

Seu espírito decerto está tranquilo

Estar em paz não é bem o seu estilo

Logo volta à sua vida amargurada

Sem tristeza o poeta não é nada

O tormento é seu porto, seu asilo

Sem a dor sua poesia pede esmola

E o poeta precisa da muleta

Se não vê sofrimento ele peleja

Para que a calmaria vá embora

Pelejando até que sua alma chora

Suas lágrimas vertem-se em palavras

Novamente aflito o poeta brada

A inquietude habita no seu peito

Sendo assim ele vive satisfeito

Mesmo tendo essa vida atribulada

O poeta tem sensibilidade

Pra sentir as mazelas desse mundo

Mergulhando na dor vai tão profundo

Quando emerge está na intranquilidade

Muito aflito sente a necessidade

De expulsar bem depressa o seu tormento

Vomitando em palavras os sentimentos

A poesia que jorra vem da alma

Expelindo sua dor ele se acalma

Pondo fim ao instantâneo sofrimento

Estar quieto para ele é fatal

Pois se cala sem ter o que falar

Infeliz assim pode trabalhar

Ser feliz é tão paradoxal

Carregando essa loucura total

Alegrias e tristezas ele deleta

A poesia é que atinge sua meta

Fervilhando sua mente na loucura

Nada existe que lhe transporte à cura

Assim segue transloucado o poeta