Pretérito mais-que-perfeito

Visita-me educadamente a dor,

recita em pretérito mais-que-perfeito

as saudações, os cumprimentos.

Trouxe-me um presente,

retalhos e agulha de costura

para remendar, recobrir

com nova estampa o coração.

Vai perambular mulambo!

Sorrindo, chorando, celebrando o farrapo,

como tantas vezes foi e tantas mais será.

Se a loucura do mundo fosse a minha

viveria bem, dormiria melhor.

Saberia decor como reconstruir-me,

mas não sei, talvez, nunca saiba.

Mesmo que não caiba nesse peito

o direito de explodir em cacos,

a sobrevida e o desejo agora estão fracos.

No dia partido ao meio,

Na noite que parte a lua

Faz parte a sua falta

na cama, nos olhos, na rua.

Visita-me educadamente a dor,

reclama o fino trato de hospedagem

pagara caro a passagem até seu destino.

Trouxe-me um presente,

baralho de cigana vidente

para prever, antever

os auspícios futuros.

Vai à sessão o consulente.

Sonhando, ansiando, imaginando a previsão,

como tantas vezes foi e tantas mais será.

Se a certeza permeasse certos dizeres,

viveria bem, dormiria melhor,

saberia decor prevenir essas feridas,

mas não sei, talvez, nunca saiba.

Mesmo que não caiba nesse peito

a esperança do efetivo e claro porvir

ei de mentir felicidade para existir.

No dia partido ao meio,

Na noite que parte a lua

Faz parte a sua falta

na cama, nos olhos, na rua.

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 24/01/2007
Reeditado em 22/01/2021
Código do texto: T356764
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