Moribundo

A tristeza me pega de novo,

porque sinto o pungir verdadeiro

que me deixa sozinho, sem sorte,

sem carinhos, amor companheiro...

Quando eu tinha os afagos de outrora,

a ilusão que sonhei porque quis

escapar desta minha plangência

que me quer moribundo, infeliz...

Eu vivi os momentos mais belos;

eu vivi os momentos mais ledos

e sonhei um porvir sorridente

que escapou por ali, dos meus dedos.

A esperança se foi tão veloz

para o abismo do Mundo Sem Fim:

e eu fiquei sem o chão que pisava,

pranteando e dizendo "ai de mim!"

A miúda que teve os meus lábios,

o meu corpo com sofreguidão,

a paixão que aqui dentro escondia

a razão de eu ter um coração...

Escarrou sobre mim vis palavras

e cuspiu nos meus bons sentimentos,

dando um riso faceiro e maroto

que me fez ter estremecimentos.

Quanta culpa jogou em meu rosto!

(fui o bode jogado ao deserto)¹

Com a culpa que em mim eu não tinha,

mas que fui condenado de certo.

Hoje anelo que as trevas me cerquem

pra lembrar que feliz fui num dia,

que a miúda me dava o aconchego

e o fanal para a minha poesia.

Hoje anelo que as trevas me cerquem

pra que eu pense bem mais nesse povo,

no flagelo que causo a mim mesmo...

E a tristeza me pega de novo...

12/03/2012

NOTA: antigamente o povo de Israel sacrificava cordeiro para ser perdoado por Deus de seus pecados. Eles pegavam um bode e soltava no deserto para morrer de sede e fome. O bode significava o pecado.

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 12/03/2012
Reeditado em 24/09/2012
Código do texto: T3549730
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