Despedida desta vida...
Não há sequer
Iminência ou aparencia de morte...
Quero apenas fazer-la!
Mesmo que seja cedo,
Antes que seja tarde,
Ou que nunca seja feita!...
Eu já atravessei o século passado,
Entrei nêste novo milênio
Com os meus míseros sessenta anos vividos!
Tenho certeza de ter atravessado
A linha do meio do meu próprio tempo,
A linha da vida que ainda muito me resta!...
Não quero deixar aqui a morbidez!
Já que ao olhar pra vida
Tanto para traz, assim com para frente,
Ainda me resta muito da vida a ser vivida
com pleno exercício de prazer de viver!
E vida é sempre vida...
Realidade é sempre realidade!...
E eu que vi os campos e as matas
Que naveguei nos mares e sobrevoei nos ares
Que me queimei no fogo, quase morro na água...
Já tão tenho medo da morte
Mas prefiro a vida... Com ou sem sorte!...
Tive amores, dissabores, fui feliz!
Tive tristezas, rancores
Excesso e até falta de pudor.
Tive raiva e até pavor!
Mas amei e fui amado,
Hoje continuo amando e sou amado!..
Perdoei e fui perdoado,
Odiei e fui odiado!
Seria hipócrita se não reconhecesse
Todos estes sentimentos ao logo desta vida!...
Que nem sempre é colorida,
Nem sempre é em preto e branco,
Nem sempre é matizada!
Eu que tive amores que sofri por eles,
Que recebi afagos e que carinho lhe dei!
Fui generoso, fui mesquinho, fui bom, fui mau
Fui um santo e também fui pecador.
Fui às vezes cruel, Amável
E às vezes indiferente!
Fui estúpido e às vezes inteligente
Animal e às vezes gente!...
Estou de porre desta vida!...
Deste mundo e desta gente
Hipócritas, crápulas e obsceno!
Imagens cruéis inaceitáveis e inevitáveis
Que aparecem instantaneamente.
Violência, ganância, desonestidade
Insanidade, loucura, ira, Inveja, tortura,
Todos os males existentes...
Estou de porre desta vida!...
Na mais me surpreende
Estou cansado das manchetes
Que alem dos crimes bisonhos, fúteis
Completa-se com Incesto, estupro,
Abortos abandono da própria cria!
Que ainda se acham, gente!
Estou de porre desta vida!...
Triste...
Com degradação e devastação
Da natureza, com extinção no mais alto
Grau dos seres vivos...
Lamentável estado dos mares e do ar poluídos, rios assoreados, lagos secando, peixes morrendo aves arribando...
Estou de porre desta vida!...
Vulcões em erupção...
Mares revoltos em maremotos,
Terra agonia em terremotos,
Ventos dantes brandos hoje enfurecidos
Arrasam e arrasta consigo tornados, tufões, ciclones revirando o mundo que parece estar acabando!...
Estou de porre desta vida!...
Assim me despeço deste mundo,
Mesmo testemunhando triste!...
Provavelmente poderia ser melhor
Se respeito e amor tivéssemos
Pela natureza tanto quanto pelo universo!...
Não estou pretendendo partir,
Nem sei como ficar aqui!...
O conflito em mim é que me faz pensar!...
Estou de porre desta vida!...
Gostaria eu poder acreditar...
Que veria o mundo, aquele mesmo que nasci
E que um dia vi!...
O sol nascer sem manchas solar,
Vi animais inocentes no pasto a pastar,
Pássaros alegres a cantar,
O homem acreditando na vida
Pondo-se a procriar!...
Via ainda, a beleza de cada manhã
No raiar de cada dia
E o por do sol a cada entardecer.
Via a lua nova e as noites de luar!
Sinto saudades da chuvas
Das tardes do meu inverno
Das flores das minhas laranjeiras,
E dos passaredos que ali pousavam para dormir.
Saudades da minha infância...
Saudades desta vida...
Saudades da minha vida!...
Francisco Rangel
Russas, 11 de março de 2012