A morte e a morte da morte
Não sou de morrer por alguém,
Por amor, ciúme, inveja, ambição.
Por trabalho, fome, inanição,
Nem por mim mesmo, suicídio.
Sei, entretanto, que um dia ela me alcançará.
Matará meu corpo, meus sonhos, minhas paixões,
Matará minha identidade, minhas preocupações,
Matará meu trabalho, meus conhecimentos, minhas produções.
Matará também meus erros, meus acertos, meus desejos,
Matará minha felicidade, meus caminhos, descaminhos,
Matará minhas ilusões, amores, desamores e dissabores.
Matará minhas amizades, meus sentimentos, meus ressentimentos,
Matará minha coragem, meus medos, minhas cóleras,
Matará o calor de meu corpo, o cheiro que dele se desprende.
Matará em mim a possibilidade de ver o sol, a lua, a montanha,
Matará a possibilidade de sentir a brisa do mar, a chuva sobre o meu corpo.
Matará a minha capacidade de ouvir o som das cornetas, das corredeiras e o canto dos pássaros.
Matará o prazer de ouvir a voz de minha mulher, de meus filhos, meus netos, demais parentes e amigos.
Matará, enfim, a minha morte.
Então eu fecharei meus olhos e sossegarei!