LAMENTO
No silêncio da noite sombria
Nesse vazio em forma de breu
Meu coração segue errante
Entoando lamentos, insólito orfeu
Sinto pena do amor maltratado
Afogado em um mar de tormenta
Agonizando de tanta saudade
Que a avidez dessa dor alimenta
Sinto pena de você
Sempre tão indiferente
Da aridez de teu coração
Pena de sua alma vadia
Encarcerada na solidão
Me dá pena sua mesquinhez
Da verdade que tenta esconder
Pena da sua covardia.
Do egoísmo marcado pela estupidez
Sinto pena, muita pena
Dessa pena que você me dá
Sinto pena do medo que brilha no olhar
Da amargura do pranto contido
Da ilusão confiscada pela insensatez
Do amor que se foi sem nunca ter sido
Sinto pena de minh`alma cativa
Embalada nessa elegia
Que de tanto penar amiúde
Sucumbiu na melancolia
Sinto pena do sonho perdido
Arrastado nas asas do vento
Muita pena da vida que manca
No compasso arrastado do tempo
Tenho pena da alegria esquecida
Da tristeza que roubou-me a quimera
Tenho pena de tanto sofrimento
Das mazelas do destino
Que com tanto desatino
Acabou por transformar
A poesia em lamento.