Dor e somente dor...
Ratazana profana, surge do oráculo de minha existência, oculta na escuridão.
Emergida do escarro, e do pus fétido minha alma grita ao ver minha carne inflamada perecer.
No anoitecer de meus dias frios, vejo a solidão me consumindo no lodo de uma vida sanguinolenta.
Pertubado feito um cordeiro com medo dos lobos famintos, me vejo consumir: minha carne dominada por vermes parasitas e minha cabeça perdida no limiar de um mundo sujo e injusto.
Grito pardo e solto na noite também parda: sem cor e sem vida, pois que o papel vale mais que uma vida.
Mergulho entre sangue, pus e lágrimas e sinto: sim, eu sinto a dor de minhas feridas.
Esmagado tom de minha tristeza: me vejo no vazio de minha triste loucura.
Caminho entre vácuos, feito zumbi bem morto, e nada vivo senão a obscuridade de minha intragável demência.
Torto, raso, múrmurio, enlace nas mãos do Diabo chamado homem.
Minha vida nada vale para a sociedade imunda emissária do Capetinha: eu estou fora da linha e o papel compra tudo até minha vida, mas não, não compra minha alma.
Grande coisa porém, o que hei de fazer com uma alma tristemente desolada e sem vida?
Ando feito nada, passeando na enseada de minha tristeza: sangro, rezo e grito, para sempre morrendo a cada dia de minha existência.
Saboreo, então lenta e delicadamente minhas dolorosas feridas na minha carne seca.
Sim, saboreo a cada dia, lenta e delicadamente, as minhas dolorosas feridas na carne, sim, na minha carne seca.