QUANDO A VIDA POUSAVA À JANELA
Nem era assim tão bom
nem tão bonito
mas era firme o solo
a vida de viver sem pressa
e de olhar sem receio
Futuros somente até amanhã
ou depois, pra semana...
mesa farta aos domingos
roupa nova de ocasião
sapato até gastar
Notícias vinham por
de ouvir dizer
algum recado no portão
deu no rádio do seu João
E eu deitada sobre aquele
galho feito cama
ouvia o silêncio
de uma sexta feira da Paixão
Cabia toda a vida em poucas linhas
e os serões se alongavam
para ilhas desertas
viagens de navio
carruagens aladas
Mal sabíamos que havia o mar
ali era terra, arvoredo
olhar para além das vidraças
e nossos dias se contavam
nos dedos da mão
Se eu mal sabia contar
pra que saber dos minutos
das horas
se tudo estava escrito no céu
e a gente vivia eternidades
em umas tardes de correrias?
Quem, afinal, levou a melhor
foi este que me jogou
a um futuro desprevenida
mangou da minha ingenuidade
soprou na minha cara
uns ventos de acordar em susto
Hoje eu vivo
fazendo de conta
que viverei sem final
(engano-me não)
Acordo dos pesadelos
com a porta da eternidade
Ando às voltas
fico presa deste chão
Daqui a dez anos
vou olhar pra trás e dizer
cadê aquela que
amordaçou um futuro
que deveras havia
e me fez crer que
acabava o meu tempo?
Aquela...
responderá o tal vento
Aquela não existe mais....!!!!