Quereres
Hoje eu queria renascer naquele sonho que morreu naquele inverno.
Refazer os passos quietos dessa busca tão alucinante
Antes eu queria ser apenas deserto e ser só
Hoje eu quero tudo ao meu redor
O pôr-do-sol na margarida e as rimas que fizeste aos meus cabelos
e cada riso que ficou cativo da tristeza.
Queria a delicadeza da mão de minha mão partindo o pão posto à mesa
e a força docemente bruta dos olhos paternos
Eu queria o desdobrar dos lençóis perfumados de flores sobre mim
nas noites de primavera e novamente sentir-me apenas botão que floresce.
Eu queria tanto mais que foi perdido e que me prendeu num tempo outro, de felicidade e de quimeras. Queria o peito aveludado do meu primeiro amor e a firmeza briosa desse amor que tenho que é último e que é eterno. E o revirar no ventre desses amores, que carrego inda dentro dos meus sonhos, neste imaginário ventre que concebo em versos.
E o branco dos cabelos em trança de minha vó Josefa, como flocos brancos de tão pura neve, para fazer bonecos e anjos de asas abertas e ser criança e derramar-se sem pranto em amenas faces sem a rigidez da consciência de que a vida passa...
Eu queria a razão perdida, e a loucura dos beijos que desarvoram nossos sentimentos, como barco ao mar, e o perdão que emenda todas as mãos baldias nesse caminhar
Queria só que minh'alma pobre, antes de ir-se tivesse a sorte de o amor absoluto encontrar.
Cristhina Rangel.