Onisciência
E se você morresse
E se a razão acabasse
E, se o sentimento não existisse
E de repente o fim
É apenas o começo
E o começo, um discreto fim.
E se alma congelasse
E se o corpo derretesse
E se as palavras voláteis
Se esparramassem gasosas
pelo universo
imerso em semântica e medo
E, se eu pudesse lhe deter
Lhe avisar
Lhe prevenir sobre o futuro
Lhe trazer de novo
ao colo,
ao útero,
ao berço.
Ao choro contido
Ao espasmo de dor
Até a última contração.
E se depois de sua morte
Minha vida continuasse
Meu silêncio velasse
por corpos invisíveis
E, se minhas orações se dirigissem
A um deus único,
Onipotente, onipresente
E onisciente
E senhor de todos senhorios.
Dono de todos os domínios
A sombra da cruz,
No enigma da estrela
No giz do ponto riscado no chão
No incenso do templo
Na reverência humilde das criaturas
Em direção a Meca
Esse senhor deus
Que sepulta os vivos e
Ressuscita os mortos...
Dai-me o poder da phenix
Deixai-me ir contra
todas as profecias
Interromper os ciclos
Para algum significado
Mais amplo e mais feliz
Que o movediço terreno
das hipóteses.
Fiat lux!