SAUDADE DE PAI

SAUDADES DE PAI

Pai, lembranças de você me fazem chorar

São lembranças que me corroem o peito

E dói muito, pai, como se fossem me matar

Aí, choro a dor que dói, não tem jeito

Ontem mesmo, pai, fui à casa em que você morou

Para ver o seu último recanto aqui na terra

As paredes estão todas umedecidas e sem cor,

Chorando a tristeza que a sua falta encerra

O seu retrato, na moldura, tal qual um santo,

Não mais sorri, pai, assumiu feições de desgosto

A moldura, sem brilho, roubou da foto o encanto

E o vidro, amarelado, cobre de luto o seu rosto

No quintal, só vi folhas secas em movimento,

O seu jardim cheio de flores, não mais existe

O seu pé de pinha, pai, morreu de sentimento

Tudo está morrendo, como morre meu coração triste

Lá, não se ouve nem o canto dos pardais,

E o bando de beija-flor, nem por lá passa

A rolinha do abacateiro, pai, não canta mais

Aqui tudo está muito triste e muito sem graça

O gatinho que lhe visitava na hora da refeição

Logo que me viu, pai, veio encontrar-se comigo

Ao aproximar-se, foi tomado pela decepção

Ao ver que não se tratava de seu velho amigo

A sua mesa grande da varanda, pai, apodreceu

Sua cadeira de encosto, baixou os braços

Aquele banco em que você se sentava, quebrou

É assim, pai, a vida aqui está em pedaços

O seu "radinho", pai, não nos traz notícia boa

A sua televisão só nos traz imagem de guerra

Nesse caos, falta a sua voz que nos abençoa

E sem ela, pai, fica difícil viver aqui na terra

Falar dessas coisas, parece não ter razão

Principalmente para você que está aí no céu

Mas são frases, pai, represadas no coração

E o coração não se esquece de um amigo fiel

Autor: Wenceslau da Cunha