ENCHENTES DE NÓS

Grandes enchentes de fúria

Levaram nossas casas

E nossos risos se foram

Como anjos sem asas

Em meio às cinzas das horas...

Grandes enchentes de dor

Varrendo o amor sem demoras

Nessas cidades onde a cor

Da esperança, pela qual imploras,

É apenas sombra de ressentimentos vãos...

Grandes enchentes de injustiça

Inundaram nossos corações incautos,

Enquanto a chama que enfeitiça

Este materialismo vil de tantos arautos

Apagou-se, apenas, sem dizer adeus...

Grandes enchentes de quem somos nós

Desabam como tempestade urbana

E, então, escoam nos martírios sós

Como gotas da fé de quem ama

Além da injustiça atroz

E aquém do sonho em chama...

Grandes enchentes, dilúvios de dores

Perderão as cores neste asfalto em vão,

Enquanto amores clamam por um coração

Que seja, apenas, êxtase e algoz em flores

Neste tempo atroz no qual os sonhos são

Os únicos resquícios que sobrarão de nós,

No vai-e-vém das chuvas de qualquer verão.

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