ELEGIA PARA A MINHA MORTE

Vejo tuas asas negras

Planando sobre a minha casa

Não tenho medo, vc sabe

Apenas não queria ir agora

Ainda tenho o pequeno Pedro

Que não vai andar com suas pernas

E precisa que eu caminhe por ele

Vejo tuas negras asas

Planando sobre os meus planos

Eu que sempre quis saber tanto

Eu que sonhei tanto

Mas , que fazer?

Outros também malharam anos e anos

Nem um troféu por serem bons e dedicados

Mas não me assusto com seu canto

Não temo a sua foice

Não temo o escuro da cova

Não me assusto com o farfalhar

De tuas negras asas

Sabia que vc me dá uma esperança

De encontrar uma feliz e tranqüila paisagem?

É tão simples imaginar

Só lá não existir o ouro e a prata

Tanta coisa vai ser evitada

Com certeza , é uma vantagem

No mínimo livre de alguma desgraça

Não temo a última viagem

Mesmo porque o fim é absoluto

Nada fiz para ter medo

Estou tranqüilo e sereno

Ao meu lado , na estação onde te esperamos,

tantos sofrem por apego

e temem embarcar no seu trem de aço e de mistério

e perder o seu rico dinheiro

e ter de enfrentar um júri

onde não se pode subornar o juiz

a fila é grande,vejo tantos rostos aflitos,

ladrões,assassinos,anônimos,ricaços e políticos,

mas vão subindo ,um a um,

e todos vão se aproximando

do degrau que não se vê o fundo

escondido sob uma luz tão forte

e com a porta sempre aberta

e enquanto não chega a minha hora

vou aprendendo com o meu Pedro

a viver intensamente cada minuto

e se antes não aprontei com o próximo

agora é que puxo o saco de Deus.