DONZELA DE FERRO
Jurei pela minha própria alma, “Nunca mais!”
Impenetrável era a rígida couraça a revestir
Um coração gélido e ressequido que jamais
Permitiria mais uma vez deixar-se iludir
Por isso ignorei teus olhares, assim eu quis
Pois não eram meus, mas sim de outrem
Ocultei os vexames e a horrenda cicatriz
Desprezei-te como o mais vil dos homens!
Na indiferença apaziguei a vida conturbada
Ver-te entre risos e com belas companhias
Açulou a convicção de minha mente acossada
De que inatingível eras e inacessível eu seria
Ambivalência cruel, tal qual carrasco brutal
Ante meus olhos, rogava para que sumisses
Longe do olhar, inquietava-me sem teu sinal
Inconfessável sentir que era infantil tolice!
Em sonhos, em vigília, implorava à sua imagem
Que me deixasse em paz, com minha dor e fel
E te fosses para sempre, liberando-me a passagem
Para meu ermo reino, onde a solidão é amiga fiel
Agora não mais poderei ver-te; as agonias findaram?
Quanto tempo passado inutilmente em amargura!
Eu me apego a lembranças que nunca existiram
Fantasma que criei para habitar minha sepultura!
Assim aguardo nesta incômoda urna, minha morada
Donzela de ferro tornei-me, com as carnes comprimidas
Apenas espero o fechar das frias lâminas aceradas
Para que una eu me torne com minhas próprias feridas!