Poema conto: Tragédia.

Amou com a saudade que sentia

e a paixão que o tempo não matara.

O seu amor era uma coisa rara

como uma estrela em plena luz do dia.

Amou de todo jeito que sabia,

também dum jeito que jamais amara

e adormeceu nos braços de Jussara

como Jesus nos braços de Maria.

Dia seguinte houve a despedida.

Mais um adeus no colo da saudade.

Ele beijou-a com ansiedade...

o avião estava de partida.

Jussara o abraça comovida...

Ele entrega-a um envelope

e sai depressa, como num galope,

deixando para trás sua querida.

O avião invade o céu nublado,

levando, de Jussara, o pensamento

e a lembrança fresca do momento,

que estivera com o seu amado:

Cada gemido, cada beijo dado...

o cheiro do amor em cada seio,

a noite que espantou o seu receio

de cometer todo e qualquer pecado.

Volta pra casa com sua saudade

a crescer mais e mais pelo caminho.

O coração a murmurar, sozinho,

sem se dar conta da velocidade.

Nuvens se desmacham em tempestade...

Mais uma curva... perde a direção...

A chuva lava o sangue pelo chão

e a morte vela a fatalidade.

O chão molhado... o envelope aberto...

papel rasgado... se podia ler:

"Estou doente, logo vou morrer...

Levo comigo o teu amor,

Alberto".

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 14/01/2007
Código do texto: T346498
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