Se hoje, meu coração parasse de bater...

Não mais me recordaria do que vivi na infância;

Do choro depois da queda;

Da solidão do castigo, às vezes merecido;

Do medo de ficar no escuro;

Do riso que o palhaço proporcionou;

Do ciúme do irmão mais protegido;

Do carinho desejado e não recebido.

Se hoje, meu coração parasse de bater...

Não me recordaria do primeiro sinal da adolescência;

Dos segredos com o diário;

Das mentiras diante das notas baixas;

Das mudanças no brincar;

Das vontades desnecessárias de brigar;

Da descoberta do primeiro amor;

Do primeiro beijo, mal dado;

Da insegurança quanto ao futuro.

Se hoje, meu coração parasse de bater...

Não me recordaria de quando me tornei adulta;

Da insegurança com o sexo oposto;

Do primeiro emprego, sem profissão;

Da ilusão de ser amada;

Da criticidade diante do espelho;

Dos amigos fiéis ou infiéis;

Dos medos, tropeços e do levantar;

Do aprender a ouvir, falar e calar;

Das trocas de afeto e de palavras duras;

Do respeitar o que é importante para o outro;

Do soluçar escondido;

Dos momentos em que me senti inútil;

De quando fizeram questão em me esquecer.

Se hoje, meu coração parar de bater não viverei...

A alegria de ter um filho;

O prazer em deseducar os netos;

O compromisso com o que deixarei como herança;

O valorizar do nascer e do pôr-do-sol;

A minha religação com deus;

Minha parte na história;

Minhas memórias.

Quero sorrir, amar, correr, produzir, celebrar, decepcionar, entender, chorar, sentir... Quero viver! Porém sei que tudo isso só será possível se hoje, meu coração não parar de bater.

Tânia Cristina de Macêdo Costa