ENTRE O SER E O ESTAR

Não sou triste,

Estou triste,

Estou triste por que a tristeza existe,

A dor existe,

A tristeza é dor;

E a dor insiste...

Fugir...?

Não adianta;

É debalde,

A dor sufoca a garganta,

A dor invade com tenacidade.

Aspirina, Tilenol?

Dorflex, Melhoral?

Dipirona, Novalgina?

... Tudo isso é em vão.

A dor resiste...

Até mesmo à anestesia;

A dor não é arredia,

Está sempre à procura de companhia,

E a dor persiste...

Estou triste,

Não sou triste,

Não sou a dor,

Estou com a dor,

Não sou seu amigo,

Tão pouco o seu inimigo,

Da dor sou apenas o abrigo.

Deixo que ela entre,

Que ela me contamine,

Deixo que ela se faça presente,

Que ela me ensine.

Deixo que ela vá,

Deixo que ela venha,

Deixo que ela me queime,

Como se fosse lenha.

Deixo a tristeza ser a dor,

Deixo a dor ser a tristeza,

Não, não fujo,

Deixo me consumir sem qualquer pudor,

Deixo estar...

Embora, ser eu nunca seja.