BAILES E BARES

Quando a noite chega,
ela veste uma roupa limpa,
passa batom nos lábios
e se banha
com algumas gotas de perfume.
Pega o ônibus,
vai em busca de diversão.

Já ele veste a camisa
que comprou semana passada.
Verifica o saldo na carteira,
respira fundo.
Pega o ônibus,
vai em busca de diversão.

Bares abertos esperam
alma sedentas de cerveja.
Garrafas de cachaça brilham
sob a luz incandescente.

Ela encontra as amigas de sempre,
soriidentes e tristes,
santas vadias.
E conversam sobre tudo,
e não chegam
a nenhuma conclusão.
Mas dançam, dançam, dançam
ao som da música da moda.
Rapazes passam e brincam
com o fogo das paixões.

Ele liga para Carolina,
mas Carolina está gripada
(na verdade, menstruada,
com cólicas brutais).
Liga para Estefânia,
mas Estefânia viajou.
Liga para Maria Edite,
Maria Edite se casou
(ou juntou os panos de bunda
com um tal de Antenor).

Bares abertos esperam
alma sedentas de amor.
Garrafas de cachaça brilham
sob a luz fluorescente.

Ela tenta, mas não consegue
se divertir.
A casa de bailes está cheia,
no peito sufocado,
a vontade de gritar.
As amigas só falam tolices.
Tola é a vida hoje.

Ele entra na dança sozinho,
como quem se masturba,
e sente a vontade de fugir.
No relógio, o tempo dispara:
manhã de domingo,
véspera da segunda.

Ela o vê de relance.
Ele a percebe,
mas
a vida não é novela,
não é comédia romântica
e a possibilidade de um amor verdadeiro
morre
no tempo que corrói a paz.


Imagem: Isa.