ll. RaZõeS PaRa MoRReR .ll
E tu me perguntas:
"Por que desejas morrer?"
É quando me afrontas
Por parecer não saber...
A vida é fio de navalha
É alforje repleto de falhas
E de completa e fatal privação...
A vida é soma de tralhas
Que nos consome em confusão.
Seguimos, consumindo, cordatos...
Seguimos feito bando de patos
Rumo à imolação...
Seguimos cegados e mortos
Escrevendo concertos tortos
Para uma indigna apreciação...
Seguimos cagados e fartos
Consumando mais tantos atos
Repletos de putrefação.
[Porque me chama a morte
Num apelo tão forte
Que me toma a razão...]
Somos concessão da vida
Sem nenhuma medida
Da nossa real situação...
Somos um sopro de nada
Nesta passagem-morada
De constante e cruel provação.
E tu insistes ainda?
Queres, enfim, qu'eu repita
O quanto mi'alma acredita
Que a morte é a solução?
Creio: já sabes, amigo
Que este ilusório abrigo
Que construíste aí a sorrir
É o mesmo irrisório sentido
De todo o nosso existir...