Cárcere

Havia sofrimento impresso nas paredes

Nas frestas exalando solidão e tristeza

Havia mistério desenhado nas sombras

E medo estampado nos olhos

A porta era um umbral inatingível

A chave era milagrosa

sorvia o abismo e o instante

Engolia toda minha esperança

E me sorria ao som do tilintar

Havia apenas penumbras e escaras

na pele, na alma e nos sapatos

O desconforto não era sentir,

perceber e esconder

sob o silêncio dos olhos

o tom hepático e amargo da dor.

A compulsiva dor corrosiva

a dilacerar tudo, boas lembranças,

esperanças e até mesmo o amanhã...

No cárcere os dias não passam

Apenas falecem num monastério oculto

O sol é negro e está de luto.

No cárcere as noites não terminam

Apenas se tornam latentes

e são estranhamente esculpidas

na escuridão da sala.

As janelas, as grades e a impossibilidade de fugir

É apenas mais uma estratégia da loucura,

embalsamada na angústia de perder

a capacidade de amar,

De perder um tempo vivido

e que nunca voltará

No cárcere, o tempo é castigo.

O espaço é inútil

E as palavras azedam bolorentas

Pois foram guardadas dentro do livro

do ressentimento.

No cárcere, a chave não é solução

É a pequena ponta do abismo

a desafiar nossa imaginação e permitir

alguns instantes de ilusão de liberdade...

Por onde a alma vagueia...

Por onde entranham os ventos

Por onde se esfregam

até largar o cheiro...

O cheiro de cárcere

Preso às vestes

e atado aos destinos.

No cárcere o número é

a fantasia do finito.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 19/12/2011
Reeditado em 19/12/2011
Código do texto: T3396278
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