Imaterial consciência
Vagando por pontes que cedem ao movimento,
observando da altura meus medos tão presentes,
convencendo-me de que tudo irá ficar bem,
na mentira de um consolo que nunca chega...
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Andando em brasas imaginárias de culpas nunca perdoadas,
vivendo o martírio de uma condenação sem direito à fala,
esperando o final do tormento que me acorda em pesadelos,
na dor de um espírito que sente, que ama, que chora...
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Lutando contra meus moinhos de vento na imensidão do nada,
assoviando uma melodia para espantar maus presságios,
sabendo-me ser o sofrimento personificado em máscaras,
na confusão de uma existência em busca de significados perdidos...
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Desejando separar-me do receptáculo que me permite ser sem ser,
na invisibilidade de minha materialidade envolta em blumas nebulosas,
oculta em cegos movimentos daqueles cujo sol ofusca a visão interna,
apenas sigo na chama da vela que não sou mas me mantém aceso...
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Como alguém poderá tocar meu rosto intangível?
Como alguém poderá beijar meus lábios transparentes?
Como alguém poderá acarinhar meu corpo prisioneiro?
Sou um fantasma de mim mesmo cuja consciência existe,
sou uma sombra contra a qual a luz se insurge na descrença,
mas aqui dentro continuo sendo tudo o que só se pode sentir,
e quantos me podem perceber sem ver, sem tocar, sem julgar?