Vagalumes na escuridão

Toca o tambor da dor destoante,

pinçando das memórias a saudade desbotada,

você dirá que fui seu inferno particular,

a chama que incendiou sua inocência poética,

o abismo que cedeu o chão sob seus pés provocando a queda,

o conto de uma traição anunciada em desconexões,

a usurpação de uma fragilidade acossada,

um território minado de mentiras e ilusões,

um traidor de almas carentes de calor humano,

fui um corvo de gelo no galho das sombras noturnas,

fui um insano desejo de uma deturpada mente demente,

mas o que poderá dizer o outro lado que nunca ouvistes?

.

Há amor na traição de um coração partido?

Há sensibilidade no monstro que a humanidade condena?

Sim, mesmo quando o eterno se esfacela em poeira cósmica,

dancei meu sofrimento ao redor de uma fogueira de dor,

a verdade é aquilo em que acreditamos e não o que os olhos revelam,

mas o mundo é uma camisa de forças de convenções e fixidez,

você jamais me aceitaria na curva do desvio que dei a minha vida,

deixei que meu mundo se metamorfoseasse no que eu escolhi ser,

lhe dei o meu melhor dentro dessa nova moldagem de corpo e alma,

minhas palavras, meus sentimentos, minha mente lhe foram entregues,

mas nada dura para sempre na realidade de uma tempestade fria...

.

Quando vês as estrelas no céu você pensa que já estão mortas,

ou apenas maravilha-se com seu brilho de vagalumes na escuridão?

Somos o que escolhemos ser, somos mais do que nosso destino quer,

porque é tão difícil escutar o espírito ao invés das convenções?

porque é tão difícil deixar falar a voz que vem de dentro?

Nos perdemos nos caminhos de uma aparência reduzida,

nos odiamos no reflexo de uma imagem distorcida,

talvez não haja nada para ser dito mesmo quando o silêncio grita,

mas minha alma contém os mesmos sonhos e risos de outrora,

mas seus olhos a traem e a afastam de minha direção,

seu conceito de mundo foi o que me impediu de contar sua verdade,

na certeza de que jamais teria sua aceitação, por isso a traição,

se você se mantém incapaz de ver no invisível do meu espírito...