AMARRAS...
Chego enfim a meu isolamento voluntário
E ao cair sonolenta a vacilante noite
Sou pelas hostes do imponderável conscrito
Desço da canoa em uma ilhota do velho Cocorobó
Amaro-a e penetro ainda mais a caatinga inconcussa
Tentando soltar-me de minhas próprias amarras sentimentais
E não há como descrever a devota emoção desse opúsculo
Ascendo o fogo e perco-me fitando as labaredas
E isso ascende em mim toda uma retrospectiva reflexiva
Sinto os proscritos da seca e da miséria secular a observarem-me
Talvez sejamos luzes filtradas pelos mesmos prismas
Pelos ermos de nossas distâncias e desencontros semeadas
E sinto como se elas se reconhecessem e se aproximassem
E a noite observando-me com os olhos suspicazes
O que me faz agitar-me ante tua taciturnidade
Pois conheço o poder que exerce em mim tua voz
Sobre todo meu espírito e também sobre minha volúpia
Sinto-me então como uma alma de ti isolada por degredo
E contorço-me ante o poder do isolamento dilacerante
Que traz em teu bojo o que a solidão tem de mais ominosa
Então invoco minha intrínseca coragem conculcada
E descubro que nessa incomportável solidão
Tento fugir do medo de perder-te sutilmente
E sinto que em ti sumo em exalação impalpável
Como também o gigantismo desse amor infrene
E a solidão da caatinga já não me é então brutal
Não tanto quanto a dor da incerteza em nós
Tenho a reflexão da vastidão onde não há opróbrio
E esse absorvente e inaudito medo de perder-te
Transforma toda minha escrita em panegírico
A exaltar a extraordinária mulher em ti
E no infindo estrelar de minha noite sertaneja
Vem-me tua incandescente e épica imagem
Onde em meio a minha árida paisagem
Descubro a impossibilidade de não amar-te
E em meus lábios repletos de amor paixão e desejos
Uma insaciável vontade de estar em teus braços
Bebendo da seiva do seio de tuas familiares paragens...