Ceia

Não consigo engolir

esse bolo de angústia

que me sufoca.

O cinza que chove

aumenta a apnéia

e sinto que cresce

a inapetência

pela vida.

A gorda mulher diz

estar sem calcinha

para não marcar o

vestido. Que importância

teria sua roliça sugestão

nessa orgia sem sentido?

Banquete mal servido

por anfitriões carrancudos.

Pratos disformes

acompanham vinhos ordinários.

E desde a Entrada

até a Sobremesa,

impera uma rudeza

que nunca se pensou.

Acepipes da semana

que passou ja se deterioram,

sugerindo os venenos

que tomam os comensais,

ainda iludidos

que à mesa,

afetos serão servidos

(e os ódios esquecidos).

A sopa cinzenta,

de horrores cozida,

jaz à minha frente

como lembrança funesta

de tudo que não presta.

Ceia fatídica

de tristeza impudíca

que avança

em minha solidão.

Apenas eu insisto

em salvar a aparência,

sem pensar no porquê

dessa inconveniência.

"La nave que vá..."