Sem chão
Ando como um mendigo sem chão para pisar
Olho, penso, digo, respiro
Atos que não acontecem
Movo-me e noto a morte
Estou cego, torpe, mudo, morto
Perco-me na libidinagem
A carne lasciva degenera a alma romântica
Peco, corrompo, morro, desapareço
Dilacerado pelo próprio lobo
O sonho inocente morre
Ao despertar para a realidade pecaminosa
Sou caça e caçador
Minha própria presa
Meu pecado me fere, me sangra
Me mata
Enraizado na vida lasciva
Cada ato é um pecado
Cada pecado é uma morte
Morto
Sou um defunto enterrado no torpor do pecado
Crucifica-me!
Queime-me na fogueira!
Liberte dessa pútrida carne a lânguida alma
Ressuscite-me para minha penitência
Moribundo
Cambaleante
Olho para baixo e não vejo nada
Um mendigo sem chão para pisar
Um pecador sem arrependimento e penitência
Um poeta morto sem amor para amar
(Março de 2006)