CASTELOS
Hoje, a noite torturou-me com uma ausência muda
No linho retorcido aquietou-se o medo
Dos fantasmas que perscrutam e assolam a alma
Na verdade escancarada a desnudar segredos
A mente divaga e meu corpo inerte
Vasculha escombros do amor perfeito
E sua negritude abrigou despojos
Resquícios da paixão a mendigar desvelo
Tal lança que profunda saqueou os sonhos
Arqueio dos quadris a encaixar os dedos
Quando ao mar jogou-se-lhe as amarras
Em multidão de sentimentos, que jaz à deriva
Dessa dor que o poeta "deveras sente"
Um fastio de espera que nao cabe enredo
Abrupto, queima e corrói, dilacera a carne
O beijo sôfrego a salivar desejos
Do muito alto se fez abismo grotesco
Embriagou-me a taça que destila absinto
Minhas dores revi no escuro palpável
Pela pele expeli de outras eras o credo
Era um céu que sem lua minguava estrelas
Um meneio dos cabelos a explodir folguedo
"Porque entre o sim e o não é só um sopro,
Entre o bom e o mau apenas um pensamento,
Entre a vida e a morte só um leve sacudir de panos"
(Lia Luft)