NAUFRAGO
Guarde para ti todo o teu precioso tempo
E use-o da maneira que melhor lhe prover
Já não há como viver de migalhas desse tempo
Não se esquece o que foi pelo tempo emoldurado
Pois é indestrutível o que dentro de si vive
O importante é saber o que já não existe
O que caminha doravante em caminho oposto
Pena não haver mais tempo de lhe esquecer
Nem mesmo neutralizar o que não morre em mim
Quando em si apenas restam resquícios de amores idos
Ilações de algo que senti agigantam-se lentamente
E que me abandona no perpetuo circulo das saudades
Na interminável roda dos desejos não realizados
E teima em sobreviver à combativa esperança
Desperto que estão todos os medos do que vai além
Do que foge ao controle do que se imagina imutável
Concomitantemente aos sonhos em si embarcáveis
Mas que descobre que já não há mais onde aportar
E que na vastidão desse mar sou apenas naufrago
Que teima loucamente em não querer soçobrar
Ante todas as improbabilidades de ser apenas um pesadelo
Pois os sonhos muitas vezes desfazem-se em nossas mãos
Evaporam-se no tempo fugidio ao que me é temporalmente possível